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Como é feito o tratamento de pacientes com COVID 19?

Para responder a essa pergunta vamos explicar o que é essa doença que pegou muita gente desprevenida e que as vezes é confundida com outras patologias de nomes parecidos. Para isso convidamos um grande médico e infectologista, referência no nordeste e que vem atuando no combate a esse vírus, Doutor Kelson Nobre Veras.
Esse grande profissional possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Piauí (1990), Residência Médica em Doenças Infecciosas e Parasitárias (UFPI), Título de Especialista em Medicina Intensiva (AMIB/AMB) e Mestrado em Medicina Tropical pela FIOCRUZ (1995).
Atualmente é Médico Intensivista das UTI de adultos do Hospital de Urgência de Teresina (HUT) e atende como Médico Infectologista em consultório particular na Clínica Lucídio Portella em Teresina.

Presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Piauí (2012-2015) e membro da Comissão de Ética e Defesa Profissional – AMIB (2012-2015). Atualmente, membro do Comitê de Sepse e Infecção da AMIB. É editor de dois livros na área de Medicina Intensiva.
Conversando com Dr. Sobre a atual crise epidemiológica acabei levando para ele muitos questionamentos sobre esses vários nomes que surgiram relacionados ao COVID 19.
O coronavírus, o novo coronavirus, o covid 19, o sars cov 1 e o sars cov 2. Ele me explicou que os coronavírus (CoV) são vírus de RNA envelopados amplamente distribuídos entre humanos, além de outros mamíferos e aves.

Seis espécies de coronavírus causam doenças humanas (HCoV). Quatro deles denominados HcoV-229E, HcoV-OC43, HcoV-NL63 e HcoV-HKU1 causam sintomas comuns de resfriado em indivíduos imunocompetentes, podendo também causar pneumonia.
As duas outras linhagens – coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV) e coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) – são de origem zoonótica e têm sido associadas a doenças por vezes fatais.
O SARS-CoV foi o agente causal dos surtos graves da síndrome respiratória aguda em 2002 e 2003 na província de Guangdong, China. O MERS-CoV foi o patógeno responsável por surtos graves de doenças respiratórias em 2012 no Oriente Médio.

No final de dezembro de 2019, várias unidades de saúde em Wuhan, província de Hubei, na China relataram surto de pacientes com pneumonia de causa desconhecida que estavam epidemiologicamente ligados a um mercado atacadista de frutos do mar naquela região. A partir de amostras destes casos, um novo coronavírus foi identificado, tornando-se o sétimo membro da família dos coronavírus conhecidos que infectam seres humanos.
Devido sua semelhança com o vírus da SARS, o mesmo foi denominado SARS-Cov-2 e a doença causada pelo mesmo foi denominada coronavirus disease 2019 ou, mais simplesmente, COVID-19”, ressaltou o médico.
Foram criados protocolos de tratamento no combate a esse vírus e muitos estão tendo bons resultados, sobre esse assunto é importante falar que apesar de ser a mesma doença, cada organismo reage de uma forma e os pacientes teem um histórico amaninético diferentes um do outro, por tanto acredito ser importante a tomada de medidas individualizadas.

Sobre isso o Doutor Kelson falou que no caso de pacientes com COVID 19 assintomáticos não existe nenhum tratamento medicamentoso capaz de acelerar a cura ou evitar que a COVID-19 evolua para formas graves, apesar de várias drogas estarem sob pesquisa clínica.
O paciente assintomático dificilmente será diagnosticado e mesmo que o fosse, por não ter nenhum sintoma, não deve usar qualquer tipo de medicação.

Acredito que estamos vivendo momentos difíceis, mas muitos estudos ainda estão em andamento para permitir que tudo volte à normalidade. Eu perguntei para o Infectologista sobre qual momento o paciente com covid 19 deve ser medicado?
Qual medicação e qual dosagem? De acordo com médico os pacientes com COVID-19 nas formas graves a moderadas devem receber medicações que aliviem seus sintomas, como por exemplo antitérmicos e analgésicos.
Os casos graves necessitam de internação hospitalar para receber oxigênio e, eventualmente, podem requerer suporte ventilatório através de intubação traqueal e ventilação mecânica invasiva. Caso o paciente com COVID-19 grave apresente outras disfunções orgânicas, as mesmas também são tratadas através de suporte intensivo em unidades de terapia intensiva.
Com a intensão de melhor entender a eliminação desse vírus por meio da medicação prescrita, perguntei a ele como age cada medicação no combate desse vírus e se riscos, ele disse: “Como explicado anteriormente, não existe ainda nenhuma medicação capaz de agir contra o SARS-CoV-2.

Todo vírus possui uma forma de entrar no organismo, digo uma célula específica para enfim contaminar um determinado corpo. Sobre esse vírus, pouco se sabe sobre ele, achei interessante perguntar como ele rompe as barreiras do nosso sistema imunológico.
O médico informou que o SARS-CoV-2 é um vírus novo. Ou seja, ele não existia até cerca do final do ano de 2019. Portanto, a humanidade nunca havia sido exposta ao mesmo. Deste modo, o nosso sistema imunológico ainda não estava preparado para lidar com este novo vírus.
Presume-se que quem tenha sobrevivido à infecção pelo o SARS-CoV-2 passe a apresentar imunidade contra nova infecção pelo mesmo, explicou.
Doutor Kelson nos informou que a forma de contágio é através de nossas mucosas dos olhos, nariz e boca. “Ele pode chegar nestes locais diretamente através de gotículas de saliva contaminadas pelo vírus e eliminadas por um portador do vírus ao falar, tossir, espirrar ou até mesmo cantar”, disse o infectologista. Ele ainda explica que estas gotículas também contaminam superfícies como trincos de portas, mãos, dinheiro, mesas, telefones, etc. “Caso estas superfícies tenham sido recentemente contaminadas com gotículas infectadas e alguém tocá-las e levar a mão às mucosas dos olhos, nariz ou boca, a transmissão também pode ocorrer”, alertou o especialista.

Sobre o contágio por meio das fezes, doutor Kelson disse: “É que o vírus já foi isolado das fezes e, em um contexto de falta de higiene, o mesmo também pode contaminar mãos e superfícies, podendo levar à transmissão da doença”. Ele ainda alertou sobre a descarga do vaso sanitário, pois ele pode espalhar o vírus. “A descarga gera gotículas que ultrapassam o vaso sanitário e contaminam as superfícies”, explicou.

Vários meios de comunicação divulgaram sobre o uso de anti coagulante no tratamento de pacientes com COVID 19, sobre isso o doutor Kelson deixou claro que o tratamento com anticoagulante é extremamente perigoso pelo risco de provocar hemorragias. A dengue também pode ser confundida com a COVID-19 e o uso de anticoagulantes na dengue é ainda mais arriscado. Portanto, este é um tratamento para complicações trombóticas da COVID-19 e que só pode ser utilizado em casos confirmados da doença que evoluem com tal tipo de complicação.

Muitos leitores vieram até mim com algumas dúvidas quando souberam que iriamos ter essa conversa. Eles não entendem o que acontece no sistema respiratório de um paciente com covid 19 e por que desse vírus atingir apenas o sistema respiratório. O doutor Kelson, como sempre, bem detalhista e didático, respondeu: “Embora a fisiopatologia seja atualmente desconhecida, foi confirmado que o vírus se liga ao receptor da enzima conversora de angiotensina-2 (ACE2) em humanos. Os órgãos considerados mais vulneráveis à infecção por SARS-CoV-2 devido aos seus níveis de expressão de ACE2 incluem pulmões, coração, esôfago, rins, bexiga e íleo”.

“Uma vez no trato respiratório, o SARS-CoV-2 determinam lesões nas células epiteliais respiratórias provavelmente mais devido a uma resposta imune exacerbada (tempestade de citocinas) do que a um efeito citopático direto do vírus. Uma resposta imune inata rápida e bem coordenada é a primeira linha de defesa contra a infecção viral. Entretanto, respostas imunes desreguladas e excessivas podem causar danos imunes ao corpo humano”, continuou.

Ele ainda explica que as citocinas rapidamente aumentadas atraem muitas células inflamatórias, como neutrófilos e monócitos, resultando em infiltração excessiva de células inflamatórias no tecido pulmonar e, portanto, lesão pulmonar.

Há muitas publicações que não se sabem se são verdadeiras sobre a contaminação de animais por esse vírus, como nos macacos. Eu perguntei a ele se macacos podem ter covid 19 e se sim, como se dá a transmissão para essa espécie, ele disse: “Alguns animais podem contrair a infecção. Contudo, o vírus é incapaz de se multiplicar nestes animais a ponto do mesmo transmitirem a doença a outras espécies, pois a mutação do vírus que permite esta transmissão é específica para o ser humano”.

Nossa conversa bem extensa ao mesmo tempo interessante que parecia não ter fim, muitas dúvidas surgiam a cada pergunta respondida, mas tentei ser o mais breve e objetiva. Finalizei esse maravilhoso encontro com esse grande profissional pedindo para ele deixar uma mensagem para meus leitores, ele deixou:

“Não há males que não tragam um bem. A COVID-19 mostra aos seres humanos que estamos todos no mesmo barco e que se nos ajudarmos e nos querermos bem todos ganham com isso. A COVID-19 mostra ainda o quanto os bens luxuosos são supérfluos e que o que é mais importante geralmente já está ao nosso alcance: o pão nosso de cada dia, nossa saúde, as pessoas que amamos, sair e sentir o sol ou a chuva. Nenhuma pandemia é para sempre, com ou sem remédios, nós vamos superar a COVID-19. Que Deus proteja a todos nós e nos encontramos mais à frente: MELHORES”.

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